Em Bruxelas, Papa pede que a Igreja se torne serva de todos, sem subjugar ninguém

28 de Setembro de 2024
-2667

Na Basílica do Sagrado Coração de Koekelberg, em Bruxelas, o Papa se reuniu com os Bispos, Sacerdotes, Diáconos, Consagrados/as, Seminaristas e Agentes de Pastoral.

Francisco definiu a Igreja belga como uma "encruzilhada em movimento", propondo à reflexão três palavras: evangelização, alegria, misericórdia.

Para o Pontífice, a crise da fé que vive o Ocidente impele a regressar ao essencial, isto é, ao Evangelho: "A crise – cada uma delas – é um momento que nos é oferecido para nos sacudir, para nos questionar e para mudar. É uma oportunidade preciosa".

De um cristianismo instalado se passou a um cristianismo “minoritário”, ou seja, um cristianismo de testemunho, em que se exige coragem. "Sejam padres que não se limitam a conservar ou a gerir um patrimônio do passado, mas pastores apaixonados por Jesus Cristo". O Papa ressaltou a importância de percursos comunitários, recordando que na Igreja há lugar para todos e ninguém deve ser uma fotocópia do outro. E o processo sinodal deve ser um regresso ao Evangelho para perguntar-se como fazê-lo chegar a uma sociedade que já não o escuta ou que se afastou da fé.

Para isso, serve a alegria suscitada por Jesus. Em todos os âmbitos, na pregação, na celebração, no serviço e no apostolado devem transparecer a alegria do coração, porque esta suscita interrogações e atrai também aqueles que estão longe. A alegria é o caminho que conduz à felicidade.

Por sua vez, o Evangelho, acolhido e partilhado, recebido e dado, conduz-nos à alegria porque faz descobrir que Deus é o Pai da misericórdia, que se comove conosco, que nos levanta das nossas quedas, que nunca desiste de nos amar.

"Gravemos isto no nosso coração: Deus nunca desiste de nos amar. ´Até mesmo se eu cometi algo de grave?´ Deus nunca deixa de te amar."

É a misericórdia, prosseguiu o Papa, que pode salvar mesmo em casos de abusos, que geram sofrimentos e feridas atrozes, minando até mesmo o caminho da fé.

"E é necessária tanta misericórdia, para não ficar com um coração de pedra diante do sofrimento das vítimas, para as fazer sentir a nossa proximidade e lhes oferecer toda a ajuda possível, para aprender com elas a ser uma Igreja que se torna serva de todos sem subjugar ninguém. Sim, porque uma das raízes da violência é o abuso de poder, quando usamos as nossas funções para esmagar ou manipular os outros."

A misericórdia é a palavra-chave para os prisioneiros, acrescentou. "Jesus mostra-nos que Deus não se afasta das nossas feridas e impurezas. Ele sabe que todos nós podemos errar, mas ninguém é um fracassado. Ninguém está perdido para sempre. (...) Misericórdia, sempre misericórdia."

O quadro do pintor belga Magritte, intitulada “O Ato de Fé”, é a imagem que Francisco deixa à Igreja local, uma Igreja que nunca fecha as portas, que oferece a todos uma abertura para o infinito, que sabe olhar mais além. "Esta é a Igreja que evangeliza, que vive a alegria do Evangelho, que pratica a misericórdia."

Caminhem juntos, concluiu o Papa: "Sem o Espírito, não acontece nada de cristão. É o que nos ensina a Virgem Maria, nossa Mãe".