Quaresma: Tempo de penitência e conversão

O tempo quaresmal faz ressoar no mundo as palavras do profeta Joel 2,13 – “rasgai o coração, e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus; ele é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo”.
À medida que avançamos na travessia, esta admoestação se tornará mais solene, mais complexa e mais cheia de Graça.
O tempo de quarenta dias é uma experiência recorrente na vida da Igreja e dos discípulos que vivem na história. Constantemente se preconiza a importância da passagem e da transformação. Constantemente temos a oportunidade de dar uma guinada para outra direção. Às vezes é só uma pequena correção de rumos. Às vezes é uma virada à direita ou à esquerda. De vez em quando, é necessário parar e tomar a direção oposta. Faz parte da dinâmica da vida espiritual.
Este é o nosso tempo de passagem. Cada homem e cada mulher se encontra no seu deserto, ao menos uma vez na vida, e deve poder superá-lo, sob pena de nunca chegar à terra prometida.
De tal modo, essa viagem não se estende para o horizonte, mas se orienta na verticalidade que conduz para dentro de si mesmo, único lugar onde podemos determinar o ponto de chegada. É um salto vertical que ninguém pode mergulhar com ninguém.
Agora, então, resgatamos o grito de Joel (2,13), e o tom solene com que convida à abertura do coração como ponto de partida; onde, abrir o próprio coração significa o reconhecimento da necessidade de cura. Semelhante a uma viagem, que se descobre estar perdido, a partir de onde se toma o caminho certo se pode ir para casa.
A ferida do coração é circunstancialmente a falta de alguma coisa que deveria estar lá, mas, curiosamente não está. A situação da passagem se torna mais complexa, pois no rasgamento do coração se constata a necessidade de continuar o caminho, e que o deserto está longe de ser vencido.
Voltai para o senhor, vosso Deus! Este é o primeiro dos mandamentos; e, embora prefiramos maquiá-lo, ele tem a absoluta primazia sobre todos os outros, também no discurso de Jesus. A ferida é uma falta, mais especificamente, a falta de amor, cuja falta de cura nos deixará para sempre aprisionados no deserto.
Na travessia poderemos encontrar a Graça plena proposta durante este tempo, porque este tempo não é apenas tempo de ser perdoado, mas de perdoar também. O primeiro amor, a Deus, se une ao amor ao irmão e a irmã, e a graça da cura transborda de coração para coração apontando diretamente para a terra sonhada durante a travessia.
A dinâmica Divina faz compreender, nas palavras de Joel, que Deus não pede somente para ser amado, mas ele mesmo nos ama, e a prefiguração de um tempo novo se concretizará na Sexta-feira da Santa, quando aparecerá a perfeita identificação entre o amor a Deus e ao Irmão.
Assim, começa a nossa difícil travessia, onde os dois amores pedem para ser amados, e, de cuja eficácia, dependerá a nossa celebração da Páscoa.
Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)
Fote: CNBB
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